A Hemiplegia Alternante (HA) é uma doença rara que tem início na infância. Caracteriza-se por sintomas neurológicos paroxísticos e recorrentes, de natureza motora (por exemplo, paralisia dos membros, distúrbios do movimento), da motilidade ocular e do sistema nervoso autónomo (como alterações do ritmo respiratório), bem como por sintomas neurológicos estáveis.

A doença foi descrita pela primeira vez por Verret e Steele em 1971 e, durante muito tempo, foi considerada uma forma de enxaqueca. Nos anos 80, Krageloh e Aicardi foram os primeiros a destacar a peculiaridade dos sintomas e da evolução da HA em relação a outras formas de enxaqueca, tendo sugerido que a HA deveria ser considerada uma entidade nosológica distinta.

Nos anos mais recentes, sobretudo graças à iniciativa de associações de familiares, foram lançados, a nível internacional, importantes projetos de investigação com o objetivo de identificar os determinantes genéticos da doença, compreender os seus mecanismos fisiopatológicos e, acima de tudo, encontrar tratamentos eficazes.

Epidemiologia

A Hemiplegia Alternante (HA) é uma doença neurológica rara, com uma prevalência estimada entre 1 em 1.000.000 . São conhecidos cerca de 1000 casos em todo o mundo e aproximadamente 5 conhecidos em Portugal, mas acreditamos que com a divulgação da nossa associação tenhamos conhecimento de mais.

Na maioria dos casos, a doença surge de forma esporádica, mas foram descritas algumas famílias em que a doença parece ser transmitida como característica autossómica dominante.

A doença caracteriza-se pelo aparecimento de ataques hemiplégicos, episódios paroxísticos recorrentes que afetam alternadamente os dois lados do corpo, com hipomobilidade que pode variar entre uma simples fraqueza e a total incapacidade de realizar movimentos. Os membros afetados podem apresentar-se flácidos ou rígidos, quando está presente uma componente distónica — ou seja, uma postura anormal involuntária — ou um hipertonus focal.

Um critério diagnóstico clássico é o início dos sintomas antes dos 18 meses de idade, embora na maioria dos pacientes os ataques distónicos e hemiplégicos comecem no primeiro ano de vida.

Nos meses que antecedem o início dos ataques hemiplégicos, pode verificar-se um ligeiro atraso no desenvolvimento motor ou outros sintomas neurológicos, em particular nistagmo (movimentos oculares anormais) em crianças que, de resto, parecem saudáveis. De facto, alguns estudos indicam que apenas 30% dos pacientes manifestam o primeiro episódio de HA com um ataque hemiplégico evidente.

Características Clínicas

O quadro clínico clássico e completo da Hemiplegia Alternante inclui diversos sintomas paroxísticos, que por vezes aparecem como primeiros sinais durante um ataque:

  • · Crises tónicas

  • · Episódios distónicos

  • · Desvio lateral da cabeça e dos olhos

  • · Alterações unilaterais ou bilaterais da motilidade ocular (como estrabismo ou paralisia do olhar)

  • · Nistagmo unilateral ou bilateral

  • · Alterações do ritmo respiratório, como apneia com cianose ou taquipneia e dispneia

  • · Distúrbios autonómicos (rubor, palidez, vómitos)

  • · Acompanhados frequentemente de dor e gritos

A hemiplegia pode também ser bilateral, quer por envolvimento simultâneo dos dois lados do corpo, quer pela propagação do ataque hemiplégico ao lado oposto. Nestes casos, é frequentemente afetada também a área orofacial, com sintomas como:

  • · Anartria (incapacidade de articular palavras)

  • · Disfagia (dificuldade em engolir)

  • · Sialorreia (salivação excessiva)

  • · Soluços

Estes sintomas podem manifestar-se isoladamente, em simultâneo no mesmo ataque, ou em episódios diferentes no mesmo paciente.

Os ataques podem ser desencadeados por fatores precipitantes, que variam de criança para criança. Os mais comuns incluem:

  • · Doenças respiratórias ligeiras

  • · Stress emocional ou físico

  • · Privação de sono

  • · Certos alimentos

  • · Estímulos ambientais como luzes fortes, sons específicos, condições meteorológicas (vento, variações de temperatura) ou contacto com a água

Os ataques resolvem-se tipicamente com o sono, mas podem reaparecer 10 a 20 minutos após o despertar. Cada episódio pode durar minutos, horas, ou até dias ou semanas.

A cefaleia (dor de cabeça) é referida em cerca de metade dos pacientes e pode apresentar-se como enxaqueca isolada ou associada à hemiplegia.

Descoberta do primeiro gene causador

Em 2004, foi identificado um possível gene causador em uma família grega, com quatro indivíduos afetados em duas gerações (mãe e três filhos): tratava-se do gene ATP1A2, que codifica a subunidade α2 da bomba sódio-potássio da membrana celular.

Contudo, mutações neste gene não foram encontradas em outros pacientes com HA.

J á em 2012, através do sequenciamento dos exões (parte do DNA codificante) de 7 pacientes e dos seus pais saudáveis, foi identificado o gene ATP1A3, localizado no braço longo do cromossoma 19, posição 13.2, com 23 exões.

Este gene expressa uma subunidade da bomba Na⁺/K⁺-ATPase, essencial para manter o gradiente eletroquímico na membrana dos neurónios — fundamental para a excitabilidade neuronal.

As mutações identificadas são na maioria de novo (isto é, não herdadas dos pais) e incluem 18 variantes descritas, sendo as mais comuns:

  • D801N

  • E815K

FONTES:

  • https://www.ahcfe.eu/

  • AHC Spain - AESHA

  • A.I.S.EA Onlus (Associazione Italiana Sindrome Emiplegia Alternante)

Localização

A Associação Portuguesa de Hemiplegia Alternante está situada na Charneca da Caparica , Almada , Portugal. E está dedicada ao apoio e conscientização sobre a hemiplegia alternante infantil.

Horário

Seg a Sex